Atacarejo: nova visão de negócio que vem somando crescimento
São mais de 550 lojas por todo o país, com um faturamento anual de mais de 85 bilhões de reais
É notável, nos dias de hoje, o crescimento exacerbado de atacarejos por todo o país. Um modelo de negócio implementado há décadas, na Alemanha, que obteve sucesso como conceito de “Cash and Carry”, que é permitir que o cliente pegue seus produtos sem intermediação de nenhum colaborador, e leve direto ao pagamento, dessa forma, diminuindo o custo da empresa, agilizando o atendimento e conseguindo preços mais competitivos no mercado. O crescimento, no Brasil, mesmo diante de crise, foi e continua sendo bem considerável.
São mais de 550 lojas por todo o país, com um faturamento anual de mais de 85 bilhões de reais. Afinal, por quais motivos, esse modelo alcança números impressionantes, atualmente? Há vários fatores que envolvem o crescimento de atacarejos, fatores esses que proporcionam, para o consumidor, uma infinidade de vantagens na hora de comprar.
Preços mais baixos
As empresas que atuam como atacarejo, trabalham em uma espécie de fusão, ou seja, ali o consumidor pode comprar produtos em preço de atacado ou de varejo. Porém o foco principal é na venda por quantidade, vender o mesmo produto em caixa ou fardo fechado, para praticar preços mais agressivos na ponta. A margem praticada é, de fato, menor que uma margem praticada em supermercados, mas o volume de venda de determinados produtos é infinitamente maior, o que esbarra na seguinte questão: o que é preferível e mais rentável, vender em quantidade com um mark-up menor, ou vender menos com um mark-up maior? A resposta sempre é: depende. Depende do custo que a companhia terá para efetivar essa venda, e é aí que o atacarejo sai na frente. Para chegar a precificações mais atrativas que a concorrência varejista, os atacadistas diminuem ao máximo os custos com colaboradores, armazenamento e logística, tornando seu custo operacional abaixo dos custos de supermercadistas. Isso flexibiliza seu mark-up, permitindo uma elasticidade maior para precificar. Dessa forma, vender em alta quantidade, com uma margem mais baixa e custos menores, se torna mais rentável do que vender menos com margem mais alta e custos mais altos. Outro fator muito importante, são as negociações com os supplyers, que oferecem tabela diferenciada para quem atua com CNAE de atacado. Mais uma vez os
atacarejos saem na frente, por comprarem como atacados, com preços muito menores. Ainda possuem um poder de compra altíssimo, e como a venda é por quantidade, necessitam de mais estoque que um supermercado. É claro que isso não se torna regra, porém, vem sendo cada vez mais comum em nosso país.
Custos mais baixos
O custo de operação muitas vezes é responsável por minar a flexibilidade de preço final dos produtos de uma loja, disparando o valor na ponta. Nesse conceito “Cash & Carry” os baixos custos são primordiais, e tudo é feito para que eles assim sejam. Em um modelo de atacarejo, não veremos repositores a todo instante enchendo as gôndolas, ou funcionários espalhados pelo estabelecimento selecionados para passar informações ou tirar dúvidas de clientes, pelo contrário, tudo é pensado para que o consumidor faça sozinho. Os gastos de armazenamentos em BackOffice são extintos, uma vez que os paletes são todos armazenados na área de venda, em prateleiras de pelo menos cinco metros de altura. Assim, como não há armazenamento em depósitos, o mesmo responsável por realizar o recebimento do produto, é responsável por colocá-lo nas gôndolas, processo que utilizaria cerca de três ou quatro colaboradores a mais em um supermercado. Cada detalhe faz a diferença no fim do processo de diminuição do valor do item.
Surgimento de novos CNPJs
Os preços competitivos, as compras em quantidade e a agilidade no atendimento não atraem somente o consumidor pessoa física, também atraem, e muito, pessoas jurídicas. O vendedor de pastel, a doceira, a confeiteira, o vendedor de churrasquinho, o dono de lanchonete, o dono de bar, os consultórios, escritórios e lojas, todos aqueles que precisam fazer a compra do mês, seja para insumos, ou para manter o ambiente em que utilizam para seu negócio, buscam o menor preço de mercado possível, esbarrando nos atacarejos. São os centavos que fazem toda diferença na conta do fim do mês desses empresários. Uma caixa de desinfetante, por exemplo, não é muito para um escritório imobiliário, que recebe inúmeras pessoas todos os dias, e precisa manter a limpeza diária, e se isso for possível economizando mais, assim será feito. Com isso, muitas pessoas visualizam oportunidades, criando um CNPJ para abrir sua mercearia, sua barraquinha ou até mesmo vendendo café da manhã em porta de hospitais, tudo, com produtos comprados em atacarejos. Uma garrafa de água mineral 500ml, por exemplo, comprada em
fardo fechado com 12 unidades, pode ser vendida por até R$ 0,70 em uma loja, podendo ser comercializada novamente por R$ 2,50 em uma lanchonete, um lucro de quase dois reais por unidade. Isso é um exemplo dos vários que podemos extrair.
Na contramão do bom atendimento
Mas como todo negócio, esse também apresenta seu ponto negativo, o que pode ser crucial para não dominar completamente o mercado, e equilibrar a concorrência com os supermercados: o atendimento. A maioria dos consumidores não possui um desejo definido e fixo, sendo maleável em cada situação diferente. O fato é que, não é sempre que buscamos o menor preço, mas sempre desejamos o melhor atendimento. Aquele açougueiro que realiza o corte da maneira que pedimos, os funcionários espalhados pela loja de prontidão a nos informar, aquela dúvida que precisa ser sanada, o produto que está em falta na gôndola mas com o seu pedido é buscado no estoque, a variedade de marcas, tipos, segmentos à nossa disposição para escolher, o colaborador que ajuda a levar até o carro, que embala com sacolas reforçadas para não rasgar, tudo isso, obtemos em supermercados. O consumidor, no final, sempre irá buscar um bom atendimento, mesmo que isso lhe custe alguns reais a mais.
Concorrência sadia
O mercado em todo o mundo é suscetível às mudanças. Conforme novos conceitos nascem e ganham forças, as companhias e redes se adaptam, criando novos métodos para competir com o surgimento de concorrentes. Supermercados vêm inovando ainda mais o seu atendimento para equilibrar a balança. Investimentos altos em self-checkouts, plataforma de vendas por e- commerce e apps, ofertas e descontos diferenciados, cartões fidelidade com promoções exclusivas para quem adere, investimentos em marketing, comodidades para fidelizar o consumidor. O fato é que, embora a fatia do bolo se divida cada vez mais, as ideias são provocadas a ganharem vida a partir da dificuldade, e a forte concorrência é responsável por isso. No fim, o consumidor sempre leva a vantagem e detém diversas opções para fazer a sua escolha.